jueves, 4 de diciembre de 2008

Abastado e sua vida

Era um sonho que tinha desde sempre, o perseguiu dando o máximo que pode e, no final, obteve todos os bons resultados que plantara com seus esforços. Queria realizar-se completamente. Quase todos os dias antes de deitar-se repetia em seus pensamentos, como uma reza já bem memorizada pelo costume, os passos que o levara até ali, de tempos em tempos, dando grandes saltos entre os principais momentos que ainda podia recordar. As decisões, estas sim muito importantes, eram boas para se lembrar pois percebia que a cada escolha exata que fizera, em um futuro próximo estaria saboreando seus frutos de maneira que até hoje sentia as mesmas emoções que naquele passado correram pelo seu corpo e sua mente. E a cada escolha equivocada se sentia bem por reconhecer o engano e desviar do caminho que o levara até ali, e logo recomeçava novamente, com maiores expectativa e experiência.

Tivera tudo que buscara, e quando não recebia do exato valor que esperava logo se convencia e aceitava como suficiente o lugar onde conseguira chegar. Este era um segredo que tinha, também desde sempre, e com ele havia evitado muitas possíveis frustrações em sua vida. Conseguira terminar seus estudos em um nível suficiente para estabelecer-se em um bom trabalho. Tivera algumas namoradas e elegira a moça com a qual se sentia melhor para casar-se e, certamente, essa foi uma das decisões exatas que tivera pois ainda estavam casados e o companheirismo mantido por eles ainda os revigorava como antes, quando houveram momentos realmente difíceis. Também tivera bens materiais que satisfizeram suas necessidades como conquistas que o alegravam de tempos em tempos, a compra de uma casa, de um carro, algumas viagens por países vizinhos e todas as outras distrações conhecidas para o dia-a-dia. Se sentia melhor ainda em saber que educara adequadamente seus dois filhos, agora já crescidos e com certa independência, porque nisso sempre pensara com muita apreensão pois educar outro ser humano para ele seria um dos caminhos mais importantes e sutis que poderia começar.

E assim se distraía por horas e horas desde já há anos. Em sua memória guardava bons e maus momentos de sua vida, valiosos e passageiros, pequenos trechos e desfechos inesquecíveis, como histórias que se entrelaçavam com enorme fluidez enquanto percorria os incontáveis anos vividos.

Porém, às vezes, sentia um calafrio por dar-se conta de que tudo isso já havia passado e as recordações que tinha as confiava somente a sua memória, também já cansada com o tempo, que pedia esforços perceptivelmente cada vez maiores para manter a nitidez das imagens, dos sons, dos gostos, dos odores e dos sentimentos, com os quais se comprazia e que algum dia possivelmente aconteceram. Essa dependência da memória para assegurar-se de que realmente ele vivera o incomodava, pois não sabia onde estava aquele mundo seu que talvez existira e hoje, no final das contas, flutuava apenas em seu pensamento.

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